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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Existe, de fato, o vício de internet?



Quando me convidaram para participar do tradicional programa Polêmica em uma mesa redonda sobre vício de internet fiquei na dúvida: estariam eles me convidando como pesquisador de cibercultura ou como dependente?! Deveria eu refletir sobre a possibilidade de tal adicção ou dar um depoimento pessoal emocionado?!

O programa baseava-se em uma matéria publicada no jornal Zero Hora intitulada "Clínica nos EUA trata vício em internet". Mas, antes de mais nada, é preciso perguntar se de fato existe uma dependência por interação mediada por computador. O tema é controverso e nos Estados Unidos há um debate se esse "vício" deveria constar do Diagnostic and Statistical Manual for Mental Disorders (DSM). Caso isso se confirme, o sistema de saúde e as empresas de seguros deveriam ajustar-se à cobertura desse novo distúrbio.

Como práticas excessivas de consumo online e jogos de azar na internet se diferenciam desses mesmos comportamentos compulsivos offline? As causas e tratamentos não poderiam ser os mesmos? É verdade que a internet pode potencializar muitas de nossas ações. Como lembra o sociólogo Manuel Castells, pessoas gregárias poderão fazer um número maior de amizades na rede; outros, que tendem ao isolamento, encontrarão na internet novas formas de distanciamento. Mas seria a internet uma droga digital com alto poder de addicção? A abstinência da rede pode causar graves crises de ansiedade?

Muitas vezes quando estamos conectados perdemos a noção do tempo como também sentimos uma gratificação instantânea pelas respostas recebidas do sistema (como em um game online). Outro fator importante é a sensação de imersão no virtual, que pode gerar uma agradável sensação de escapismo. Ou seja, não podemos pensar que a tecnologia é neutra, que a compulsão e obsessão online sejam exatamente o mesmo que offline. Por outro lado, tampouco podemos pensar que é a internet que causa a addicção, se é que ela existe. Depressão e ansiedade, por exemplo, podem ser causas anteriores que promovem o uso abusivo da rede.

Pelo que li neste excelente artigo, publicado no periódico científico CyberPsychology and Behavior, não existem evidências sólidas que possam confirmar a emergência desse novo distúrbio mental. Os autores afirmam que os trabalhos que sustentam a hipótese tem problemas metodológicos sérios (desde a seleção dos sujeitos avaliados) e não conseguem apresentar uma definição específica que distinga essa forma de addicção de outras compulsões conhecidas.

Mesmo assim, além da clínica citada na matéria no jornal Zero Hora, você facilmente encontra na web outros centros de tratamento de vício em Internet. O Center for Internet Addiction Recovery inclusive traz um teste online para você avaliar se é um dependente digital. Que bom que esse teste é aplicado na própria internet!

Se um dia for comprovado que o vício em internet é um fato, uma coisa é certa: seu tratamento não pode ser comparado ao de dependentes químicos. Para estes é preciso evitar o consumo das substâncias a qualquer preço. Por outro lado, no mundo em que hoje vivemos evitar a internet pode ser impossível. O possível tratamento pode ser pensado como aquele ministrado para quem come compulsivamente (já que não se pode deixar de comer!), onde o comportamento moderado deve ser trabalhado.
By:Ed.

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